20 novembro 2010


Eu fui, vi, gostei e postei.

Nota: Para quando um Portugal retratado como um Vencedor
e não na eterna procura de Sebastião,
com medo de enfrentar mais do que o horizonte lhe oferece?

O Teatro Nacional São João, no Porto, apresenta hoje em estreia absoluta a nova criação de Ricardo Pais: Sombras – A nossa tristeza é uma imensa alegria. Dois anos depois de ali ter estreado a sua última criação, ainda na qualidade de Director Artístico do TNSJ, Ricardo Pais regressa a casa para criar Sombras.

Escreve Ricardo Pais:
Sombras constrói-se numa espécie de paisagem cénica insólita, cheia de eventos inesperados e contrastantes. É um espectáculo multidisciplinar, decididamente contra os tiques da “fusão” ou da “world music”. Tem no fado o seu coração sofrido e no fandango uma espécie de cavalgada eufórica. Assenta em música original, parte de uma banda sonora de missão unificadora.

Retomamos, num tom mais evocativo do que narrativo, alguns momentos dos grandes textos portugueses que visitámos nestes últimos anos, sublinhando a insistência em alguns temas da chamada mitologia portuguesa, do seu pano de fundo lendário e da relação destes com alguns dos temas mais recorrentes no Fado: a passagem inexorável do tempo; o regresso de um Rei Encoberto; a timidez em enfrentar o nosso próprio retrato ou o vício, a pressa de perdoar, de aplacar; o desejo complacente da separação dos corpos e a intolerância anti-espanhola (na Castro, a história de amor, seminal de todas as perdas que o fado celebra); a ganga lisboeta nos escassos mas vibrantes textos populares de Pessoa; as apoteoses alcoólicas de Álvaro de Campos; a vertigem da culpa e do desejo nos poemas de Pedro Homem de Mello…

Ensombramentos e incandescências da nossa natureza teimosa e periférica a que o olhar do videasta Fabio Iaquone acrescenta uma destemida fantasmização. Sombras, como o nome indica, exalta todos os jogos de equívoco de que o Teatro nunca parece saciar-se.

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